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Crítica | O Peso do Passado

Perdido entre o desconforto e o tédio, O Peso do Passado não consegue ser o filme que pretende ser


É impactante observar a caracterização de Nicole Kidman em O Peso do Passado. Uma viagem que se inicia pelos cabelos desgrenhados, prossegue pelas feições cansadas e termina no infinito azul de um olhar vazio. Assim, com uma breve apresentação visual da protagonista, podemos perceber o que a trama nos reserva. Infelizmente, ao final da película a sensação também é de um vazio.

Os roteiristas Phil Hay e Matt Manfredi apostam em um ir e vir temporal para que vejamos os eventos passados que levaram a detetive Eren Bell (personagem de Kidman, em ótima atuação) a tomar certas decisões no presente. A missão pretérita de Eren enquanto infiltrada em um grupo de assalto a bancos é interessante, embora desperdice o potencial dramático em certos aspectos que poderiam ser mais interessantes para o dilema moral da personagem. Já a vivência presente da personagem se resume ao convívio familiar destrutivo e a busca relativamente simplista por vingança.

Quando jovem, Bell foi parceira de Chris (interpretado por Sebastian Stan) na já citada missão infiltrada. Não há maiores detalhes sobre o desenrolar dessa missão, mas também não é o foco da trama. O ponto principal é estabelecer a decepção e amargura quanto às decisões da personagem no decorrer da missão, bem como a motivação de vingança contra Silas (Toby Kebbell, em uma atuação simples mas imponente), o chefe do grupo de assaltantes.

Anos depois, com uma filha adolescente rebelde, problemas com alcoolismo e um divórcio, Bell se depara com o retorno de Silas, que leva a detetive a investigar seus antigos comparsas na esperança de encontrar seu nemesis. Essa investigação é razoavelmente simples, parecendo servir mais como uma forma de mostrar melhor os eventos passados motivadores da personagem do que movimentar de fato a trama para seu climax. Existem momentos de provação que contribuem para a construção da personagem e a colocam em uma zona de perigo, mas sem um devido esforço cinematográfico para acentuar o teor destrutivo da trama.

No fim, o sentimento de vazio se dá com um twist relativamente sagaz, embora já não seja tão interessante por conta dos diversos momentos potencialmente críticos do enredo. O filme parece querer estabelecer um ponto sobre a capacidade de autodestruição humana, bem como a possibilidade de regeneração, mas não engrena dramaticamente na construção dessa dicotomia complexa da natureza humana. Acaba se propondo a ser mais do que aquilo que no fim consegue ser.

NOTA: 6

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