Crítica | A Luta do Século

Uma das mais folclóricas rivalidades do boxe brasileiro ganha sua devida representação em belo e divertido documentário

A história do esporte é marcada por diversas rivalidades nas mais variadas modalidades. Do futebol ao xadrez, diversos duelos foram responsáveis por criar momentos memoráveis e trazer ainda mais paixão ao desporto, seja pelo alto nível de competitividade ou pela excentricidade e emoção dessas disputas. O boxe brasileiro, ao longo da década de 90 e começo dos anos 2000, teve um exemplo marcante desse tipo de fenômeno competitivo; e A Luta do Século documenta os altos e baixos dessa história.

Dirigido por Sérgio Machado e produzido por Lázaro Ramos, o documentário faz uso de diversos arquivos jornalísticos para mostrar como as carreiras de Luciano 'Todo Duro' e Reginaldo 'Hoyfield' se desenvolveram por conta da rivalidade quase que caricata entre eles e, de certa forma, acabaram dependendo da mesma. O uso da narração para contextualizar e resumir os acontecimentos mostrados em tela é preciso, dando contornos ainda mais dramáticos para as imagens que contam a história.

O filme mostra como Todo Duro tinha um 'talento nato' para o boxe, mas não se dedicava aos treinamentos para aperfeiçoar sua técnica. Já Holyfield era devoto aos treinamentos e possuía uma força física acima da média. Embora ambos tenham conseguido lutas internacionais, não obtiveram muito sucesso; de forma que precisavam um do outro para se manterem relevantes. E a rivalidade entre os dois é o que mais chamava atenção. A forma como Todo Duro provoca Holyfield durante as entrevistas e pesagens fez nascer essa rivalidade que proporcionou momentos dignos de ficção, como uma luta em que o público decide invadir o ringue com cadeiras. Infelizmente, além da queda no interesse do público, 

Contado o mito, o documentário passa a mostrar a realidade. A vida dos lutadores no nordeste brasileiro atualmente, depois que os holofotes já não os procuram. Vemos o cotidiano humilde que cada um leva após sua ascensão e queda; embora tenham mudado seus hábitos não possam dispor de prestígio e dinheiro de outrora, eles ainda são reconhecidos pelas ruas e recebem o carinho daqueles que se lembram.

Reavivar e celebrar a folclórica dupla parece ter sido o objetivo do trabalho de Sergio Machado, que foi recompensado pela sorte (ou intermédio dos deuses do esporte). Durante as gravações, de forma totalmente inesperada, um traficante que ajudava a organizar os embates entre Holyfield e Todo Duro saiu da prisão. Assim, a equipe do documentário pode presenciar todo o trâmite daquela que seria chamada de 'A Luta do Século', dando também nome ao filme.

O desfecho da história desses dois boxeadores ainda está por vir, uma vez que eles ainda se enfrentarão mais uma vez (ou pelo menos assim planejam). Mesmo que o embate não ocorra, a memória deste capítulo na história do esporte há de ser eternizada por esse belo trabalho cinematográfico, que é extremamente competente ao entreter e contar a história de forma dramática e cômica na medida certa. Uma homenagem mais que devida para estes personagens que merecem todo carinho possível dos amantes do esporte.

Nota: 8