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Crítica | A Trama (L'Atelier)

A Trama - 2017

Drama francês explora os conflitos da juventude em meio aos embates ideológicos contemporâneos


O debate político entre progressistas e conservadores não é exclusividade do Brasil. Na França, durante o período eleitoral em 2017, vieram à luz os mais diversos temas controversos no meio social francês; entre eles, a ascensão da extrema direita e o debate sobre imigrantes. É nesse campo que Laurent Cantet e Robin Campillo trabalham o enredo de A Trama (L'Atelier)

A história se passa na cidade litorânea de La Ciotat e acompanha uma oficina profissional de escrita literária, ministrada por Olivia Dejazet (Marina Foïs), uma autora renomada de livros de suspense. Dessa oficina participam sete jovens de origens diversas que apresentam uma espécia de recorte da sociedade francesa. Entre eles temos o protagonista Antoine (Matthieu Lucci), um jovem branco que diz não se interessar por política mas acompanha os vídeos de um entusiasta da direita nacionalista francesa.

As oficinas representam os momentos de embate entre a realidade do protagonista e a dos outros alunos, que representam os imigrantes, negros e muçulmanos franceses. Nesses momentos a professora Olivia funciona como mediadora, tentando conciliar os debates acalorados da turma. Essas cenas são os principais pontos catalisadores da evolução do arco de Antoine, uma vez que a forma com que cada um apresenta suas sugestões para o desenvolvimento da trama do trabalho-livro reflete a posição social de cada personagem. Interessante notar que os próprios alunos demonstram certo receio e preconceito com a professora por esta se portar como parisiense, o que demonstra a diferença de realidade entre La Ciotat e as grandes cidades francesas. A própria história da cidade, com suas lutas trabalhistas e o papel do estaleiro servem como pano de fundo para o debate.

Em meio a todos esses temas sociais e políticos temos Antoine, um jovem suburbano entediado pela vida que leva em uma cidade decadente. Isolado dos pais, passando muito tempo sozinho no quarto jogando no computador ou fazendo exercícios, preocupado com a aparência física, interessado na carreira militar e sem muitos amigos, exceto aqueles com quem se relaciona através de seu primo. E no meio de tudo isso vemos sua aproximação à direita nacionalista francesa por meio de uma espécie de "Nando Moura francês". Todos esses são ingredientes para a progressão de sua agressividade, as vezes comparada à de um assassino.

A estrutura e linguagem do filme diferem da usual estética americana, de forma que algumas pessoas possam vir a ter dificuldades de se envolver com o conflito principal do protagonista e fiquem com a impressão de que o filme é "parado", mas é interessante notar que é essa a sensação de Antoine com relação à sua vida. Ainda assim, criar empatia com a trama pode ser um problema: o recurso usado para fortalecer a ligação entre professora e aluno parece ser usado às pressas, e o próprio desenvolvimento da motivação do personagem se da de forma efêmera, sem mostrar as informações de maneira espetacular ou impactante, elas apenas estão lá e o espectador precisa senti-las.

Em pouco menos de duas horas de filme temos um debate interessante e uma história que faz pensar, mas não chega a ser tão cativante quanto "Entre os muros da escola" (Entre les murs), outro renomado filme de Cantet. Ainda assim, essa produção é merecedora da atenção daqueles que querem ter uma experiência mais calma e contemplativa sobre os desafios da juventude contemporânea.

Nota: 7

Indicações Relacionadas

Esse filme é indicado para aqueles que gostaram de filmes como "A onda" e "Entre os muros da escola".

Informações

Título Original: L'Atelier
Roteiristas: Robin Campillo, Laurent Cantet
Diretor: Laurent Cantet
Duração: 113 min (1h53)

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