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Crítica | Extraordinário

Um drama familiar otimista que diverte e emociona na medida certa, apresentando um mundo em que a gentileza prospera

Julia Roberts e Jacob Tremblay interpretam Isabel e Auggie, respectivamente
A vida passa tão rápido que as vezes não conseguimos perceber o que se passa com quem está ao nosso lado. Essa é a ideia base do monólogo final de Our Town (Nossa Cidade), peça teatral encenada no filme, e também é uma das linhas que guiam a narrativa da adaptação cinematográfica de Extraordinário, baseada no livro homônimo escrito por R. J. Palacio.

O enredo de Extraordinário (Wonder, no original) não se trata simplesmente da história de um garotinho que sofre da síndrome de Treacher Collins. De maneira bela e emotiva, Stephen Chbosky (diretor e roteirista conhecido por As Vantagens de Ser Invisível e A Bela e a Fera), Steve Conrad  (roteirista conhecido por A procura da Felicidadee Jack Thorne (roteirista conhecido por A Longa Queda)  nos mostram como os personagens que orbitam Auggie Pullman (Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack) lidam com seus próprios problemas, ligados de alguma forma a condição do protagonista.

Os personagens Via Pullman (Izabela Vidovic), uma irmã que por entender as necessidades especiais do irmão Auggie abre mão da atenção que poderia receber de seus pais; Jack Will (Noah Jupe), um amigo que tenta conciliar sua nova amizade com o protagonista e a "pseudo amizade" que tem com o bully da turma; Miranda (Danielle Rose Russell) , melhor amiga de Via que tem uma família despedaçada pelo divórcio e vê nos Pullman um segundo lar e uma vida melhor; e temos, claro, Auggie Pullman, um menino fascinado por Star Wars e amante da ciência que usa o bom humor e a imaginação para lidar com os preconceitos sofridos.

As subtramas de Via, Jack Will e Miranda mostram como Auggie afeta suas vidas. Isso se da de forma suave, em pequenos "capítulos" que fazem a contextualização de suas motivações e conflitos, sem perder a carga dramática e servindo para mostrar que todos nós temos nossos próprios problemas, na grandeza proporcional dos eventos de nossas vidas.

Isabel (Julia Roberts, em uma ótima atuação) e Nate (Owen Wilson, com um bom timing para utilizar seu humor sem ser caricato) são os pais de Auggie, que não recebem tanto destaque no desenvolvimento da trama quanto os personagens secundários já citados, mas tem seus momentos de brilho, principalmente nos diálogos a sós. 

Os dilemas dos personagens não impedem que eles encontrem seus momentos de redenção. Todos  conseguem agir de maneira positiva e superaram seus obstáculos, sempre buscando a gentileza dos pequenos atos, algo muito raro no mundo real, mas que no longa parece completamente verossímil. Até mesmo as situações já clichês de bullying são eventualmente superadas com alguns tropeços, mas um final redentor, o que para os espectadores mais amargurados pode não ser digerido tão facilmente.

É justamente no uso desses clichês e nesse otimismo que se cria o ponto de divergência no filme. Ou o espectador se deixa ser conduzido pelos dilemas dos personagens, embalado pela trilha sonora sentimental; ou ele se fecha à perspectiva apresentada e se prende à melancolia do mundo real. Com certeza a primeira opção é a mais prazerosa. O sentimento de aconchego e a emoção dos personagens são uma ótima pedida para quem procura um filme para família sobre famílias e, mais que isso, sobre empatia.

Apesar do uso dos já referidos clichês, que impedem que a história seja algo além do extraordinário; e um terceiro ato um tanto quanto apressado, se comparado ao restante do filme, Extraordinário é uma obra com boas atuações e uma bela mensagem, uma luz acalentadora em tempos de ódio. Mesmo que tenha suprimido a importância de alguns personagens do livro, como o professor Mr. Browne (Daveed Diggs), os fãs do livro original ficarão satisfeitos com a versão cinematográfica.

Mostrando dilemas que são de fácil conexão entre espectador e trama, temperado com doses de humor certeiro, belas montagens e referências a elementos da cultura infantil atual (Star Wars e Minecraft são parte importante no desenrolar da história), Extraordinário é uma feliz experiência cinematográfica, de execução polida e bem calculada, pronta para agradar o grande público.

NOTA: 8


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